Overtraining e o desafio clínico do diagnóstico

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Quando atletas não respeitam suficientemente o balanço entre treinos e recuperação o corpo dá sinais que algo está errado! Quem busca uma maximização de performance tem que ter em mente que são necessárias adaptações fisiológicas e neurológicas no corpo. É necessário que o treinamento apresente uma periodização que permita um equilíbrio entre treino e recuperação/descanso adequado do atleta.

“Overreaching” é uma condição comum em atletas com uma incidência de 5 – 60%, entretanto a Síndrome de Overtraining é muito menos prevalente. O “overreaching” é o estado onde o excesso de volume ou intensidade do exercício resulta em um decréscimo na performance do atleta. A síndrome de overtraining é uma condição extrema de má adaptação fisiológica. Sua exata etiologia e patogênese não são bem conhecidas. Sintomas do overtraining são multi- sistêmicos e resultam de alterações hormonais, imunológicas, neurológicas em resposta a um excesso de exercício, sem período de descanso adequado.

Diferenciar NFOR – “Nonfunctional overreaching” de “overtraining syndrome” – OTS é, às vezes, muito difícil e depende do desfecho clínico e de diagnóstico de exclusão. Os atletas frequentemente irão mostrar sinais clínicos, hormonais e sintomas semelhantes. Uma pista para a suspeição clínica do “overtraining” pode ser a duração prolongada da “má adaptação” não só do atleta, mas também de diversos marcadores biológicos, neuroquímicos e mecanismos de regulação hormonal. Geralmente, os sintomas do “overtraining” como fadiga, declínio da performance e mudanças de humor são mais severos do que aqueles na NFOR. Mas não há evidência científica que confirme ou refute essa hipótese.

No “overtraining”, temos que excluir doenças orgânicas, infecções, fatores como dieta com restrição calórica (balanço energético negativo), insuficiente ingestão de carboidrato e/ ou proteína, deficiência de ferro, de magnésio, alergias e diversos fatores que podem ser “gatilhos” para a iniciação do evento. Infelizmente, a revisão sistemática da literatura não é tão clara para um diagnóstico direto, sintomas, manuseio ou sua prevenção.
Entretanto, dada à severidade dos sintomas e ao prejuízo da qualidade de vida, prevenir o “overtraining” precisa ser considerado por todos aqueles que interagem com atletas de Endurance, ficando claro que há uma ausência de testes que validam tal diagnóstico.

A síndrome de “Overtraining ” é mais severa que a NFOR e exige, às vezes, alguns meses para a recuperação da performance do atleta, apesar de um período de descanso. Por definição, na Síndrome de Overtraining, a duração do decréscimo da performance do atleta é superior a > dois meses, seus sintomas são mais severos e o diagnóstico seria fácil, se tivesse um biomarcador disponível. Infelizmente, não há. E também não há nenhum marcador definitivo que diferencia a “nonfuncional overreaching” da Síndrome de Overtraining.

Temos que fazer um diagnóstico diferencial com: asma, hiper reatividade brônquica, doenças da tireoide, alterações primárias do humor, doenças da glândula adrenal, diabetes melitus, deficiência de ferro com ou sem anemia, infecção, má nutrição, condições oncológicas, reumáticas, doenças renais, do fígado e outros para avaliar o atleta como um todo! É necessário se fazer um screening no esportista que persiste com a baixa da performance e sintomas, mesmo após a realização do período de descanso.

Importante diferenciar que fadiga é normal com treinamentos intensos, mas perda do vigor é um sinal de um estado já de má adaptação.

Sintomas do “Overtraining” não são específicos e podem ser sintomas presentes em algumas doenças. Algumas delas são asma, anemia, hipotireoidismo, imunodeficiências, hipocortisolinemia, síndrome da fadiga crônica e outras condições comuns.
Não há um biomarcador ou um teste especifico para se fechar o diagnóstico de OTS.

Atletas que persistem com fadiga e/ou infecções recorrentes devem fazer uma avaliação médica completa.

A alteração hormonal afeta como o corpo responderá aos exercícios, nesse caso, ao exagero de treinos.
Cada atleta tem sua “capacidade individual” de tolerância ao stress físico.
Quando ocorre um stress agudo, a medula da supra -renal secreta hormônios na corrente sanguínea em consequência a ativação do eixo Hipotálamo-hipófise-Suprarrenal. Já na fase de resistência, correspondendo ao stress crônico, a glândula adrenal secreta permanentemente os glicocorticoides. Caso o agente estressor permaneça, a fase também permanece, porém, modificada, e o mecanismo de defesa pode falhar, levando o indivíduo a entrar em uma fase de exaustão, onde o organismo do atleta foi exposto a um estímulo ameaçador à manutenção da Homeostase.

Praticar esportes é fundamental, mas temos que ter em mente a importância do período de recuperação do corpo. O organismo nos dá sinais de quando estamos começando a ultrapassar os limites.
Como exposto, o diagnóstico de Overtraining é um desafio clínico.

Enfim, respeite seus limites! Boas provas!

Referência bibliográfica:
– European College of Sport Science
– American College of Sport Medicine

Cristina Gama
Médica CRM-MT 5698 -Especialista em Cardiologia e Ecocardiografia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia -Aperfeiçoamento em Ecocardiografia – Mayo Clinic, Rochester – USA -Diretora técnica Médica da Clínica ICTUS Cordis Check – Up -Médica responsável pelo primeiro exame de Ecocardiografia intra operatória em Cirurgia cardíaca do Estado de MT -Atleta amadora e amante do Ciclismo! -Fã das competições do ULTRAMACHO – 65 | 3054-5656

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