Coração do Atleta – Mito ou realidade ?

Temos que diferenciar o “coração do atleta “, que é uma adaptação do órgão, de uma doença que se chama Miocardiopatia hipertrófica. Pois esta é a principal causadora de morte súbita em atletas.

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O treinamento físico, principalmente aeróbio, quando intenso e prolongado gera alterações e “adaptações cardíacas”. Este remodelamento cardíaco é conhecido como “Coração do atleta”. Essa hipertrofia fisiológica não é igual para todos os tipos de esportes praticados. Há um impacto diferente de cada esporte ao coração. Por exemplo, esportes como remo, canoagem, ciclismo, natação são esportes onde encontramos um aumento das cavidades do coração e há hipertrofia muscular do órgão, ou seja, aumento de sua massa muscular.

Na corrida a sobrecarga do coração é predominantemente volumétrica. O débito cardíaco (o volume de sangue que o coração ejeta) pode aumentar em até 8 vezes no esforço máximo!Já esportes como levantamento de peso, a sobrecarga cardíaca é essencialmente pressórica, há menor alteração do tamanho das cavidades do coração, mas uma grande alteração na parede ventricular.

Temos que diferenciar o “coração do atleta “, que é uma adaptação do órgão, de uma doença que se chama Miocardiopatia hipertrófica. Essa diferenciação é de suma importância , pois segundo o JAMA (The Journal of the American Medical Association), a miocardiopatia hipertrófica é a principal causadora de morte súbita em atletas.

Importante o atleta estar atento a sintomas que podem nos dar pistas de que possa haver alguma anormalidade como: fadiga excessiva que não era esperada associada ao exercício, presença de dificuldade respiratória associada ao exercício, dor torácica ou desconforto durante a prática de atividade física, relato de sopro cardíaco, síncope (desmaio) ou “quase síncope”, tonturas, mal estar durante o exercício, relato de hipertensão arterial.

Segundo artigo publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, para que ocorram algumas das alterações cardiológicas, deverão coexistir associações de diversos fatores.

1- No treinamento aeróbio de alta intensidade (mantido 85% da FC máxima), o aumento do débito cardíaco, ou seja, do volume de sangue ejetado, através da elevação da frequência cardíaca e do volume sistólico, associado ao provável caráter genético racial e com fatores ambientais, como tempo de treino, quantidade, qualidade do estímulo físico esportivo em uma mesma modalidade esportiva (exemplo: diferentes funções tático – técnicas de cada atleta numa equipe) é que irão produzir os variados achados cardiovasculares como a Cardiomegalia (aumento do coração ) e outras alterações nos atletas.

2 – No treinamento aeróbio de moderada intensidade (mantido em torno de 70% da FC máxima), mesmo prolongado, os estímulos não são suficientes para determinar a Cardiomegalia, pois são utilizadas as reservas fisiológicas do coração.

Algumas das alterações encontradas no coração do atleta:

a) Bradicardia ( frequência cardíaca < 60 batimentos/minuto): essa é a alteração mais comum, tanto em atletas como em esportistas bem condicionados, principalmente os praticantes de alta performance esportiva (ciclismo, triátlon, maratona, natação oceânica, etc.). Facilmente detectada por um eletrocardiograma simples.

b) Cardiomegalia (aumento no tamanho do coração, no peso, diâmetros, espessura), mas a sua função encontra-se preservada.

c) Sopros cardíacos de caráter benigno ou funcional. Podem ser detectados pela ausculta cardíaca feita por um cardiologista.

d) As alterações dos exames cardiológicos, frequentes nos atletas altamente treinados, são reversíveis com a suspensão dos treinamentos e competições , a partir de três semanas de afastamento das atividades físicas.

Importante salientar que essas “adaptações “dependem de predisposição genética para o desenvolvimento das alterações do coração do atleta , é substanciada pelo fato de que nem todos os atletas as exibem, ocorrendo em aproximadamente 50% dos casos.
Uma avaliação cardiológica bem feita é fundamental antes do início da pratica de atividade física e é importantíssimo um acompanhamento médico especializado, quando o atleta começa a se exercitar de forma mais intensa, para se monitorar tais possíveis adaptações do coração.

Bibliografia
– Feigenbaum Ecocardiografia, Feigenbaum, Harvey
-Arquivos Brasileiros de Cardiologia – Ghorayed , Nabil
-Revista de Cardiologia – Sociedade de Cardiologia- RS

Cristina Gama
Médica CRM-MT 5698 -Especialista em Cardiologia e Ecocardiografia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia -Aperfeiçoamento em Ecocardiografia – Mayo Clinic, Rochester – USA -Diretora técnica Médica da Clínica ICTUS Cordis Check – Up -Médica responsável pelo primeiro exame de Ecocardiografia intra operatória em Cirurgia cardíaca do Estado de MT -Atleta amadora e amante do Ciclismo! -Fã das competições do ULTRAMACHO – 65 | 3054-5656

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