Dor de cabeça ao pedalar: causas comuns e prevenção

Problema é frequente entre os adeptos da pedalada, mas deve-se consultar médico se aparecer. Neurologista e médico do esporte dão dicas e orientações

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Temperaturas elevadas, baixa hidratação e mau posicionamento na bicicleta são algumas das explicações para as dores de cabeça relativamente comuns entre os ciclistas. Nesses casos, é possível evitar as cefaleias e até enxaquecas corrigindo suas causas. Mas para descartar motivos mais graves e buscar orientações em relação a como proceder, é preciso procurar ajuda médica assim que as dores comecem a aparecer, seja no caso de ciclistas que já sofriam com enxaquecas antes de pedalar ou se essas elas são uma novidade. Dor de cabeça é coisa séria e pode esconder outras causas.

A médica neurologista Aline Turbino comenta que, se a pessoa começou a sentir dores de cabeça ao praticar algum esporte, seja o ciclismo ou até ao levantar peso na academia, é preciso investigar o porquê. Pode ser que o problema seja ocasional, mas também pode ser sinal de algo mais grave. Portanto, é importante consultar um médico neurologista para descartar causas como aneurismas e tumores.

– Uma dor nova que ocorre durante uma atividade extenuante como o ciclismo tem que ser investigada por neurologista. Tumores e aneurismas podem romper quando há aumento de circulação sanguínea, e a pessoa sente dor. Mesmo o paciente que tem o problema há muito tempo e notou que piorou após a prática de exercícios mais intensos também precisa ser investigado – alerta a neurologista.

Médico do esporte, Páblius Staduto Braga reforça a recomendação para que ciclistas procurem um especialista caso as dores de cabeça apareçam depois que começou a pedalar. Mas não é preciso pânico, mesmo se a pessoa precisar interromper a atividade porque a dor é insuportável. Ele lembra que o problema pode ter várias causas, inclusive dilatação dos vasos da cabeça e desidratação, e a avaliação médica é essencial para o diagnóstico correto.

– A dor de cabeça não é necessariamente negativa. É um aviso de que algo está errado. E é incompatível pedalar com dor. Se esse problema começa a acontecer, dê atenção, não desconsidere e consulte um médico. É melhor ter um excesso de cuidado do que pecar por uma falta de atenção – afirma Braga.

A seguir, conheça as causas mais comuns das dores de cabeça entre ciclistas. Turbino, que é membro da Sociedade Brasileira de Neurologia (SBN), e Braga, médico do esporte do Centro de Medicina Especializada do Hospital Nove de Julho, também orientam sobre como prevenir o problema.

Causas mais comuns

  • Dilatação dos vasos na cabeça em função do aumento da circulação sanguínea e das altas temperaturas;
  • Baixa ingestão de líquidos. Pedalar é uma atividade que pode causar desidratação. Se não for feita uma reposição hídrica adequada, dores de cabeça podem ser uma das consequências, além de insuficiência renal e arritmias, em casos mais graves;
    Hipoglicemia, decorrente do alto gasto energético durante a atividade e alimentação inadequada antes da prática;
  • Estresse metabólico por volume intenso de treinamento. A falta de recuperação muscular, hídrica e metabólica pode desencadear um processo de inflamação crônica e dores nos músculos. Esse esgotamento também afeta o sistema nervoso central. Se há uma inflamação na corrente sanguínea, pode causar cefaleias e, na maioria das vezes, enxaquecas, agravadas ainda com excesso de adrenalina liberada pelo exercício;
  • Capacete muito apertado. Sim, essa também é uma causa comum. Se esse equipamento for menor do que o tamanho indicado para o ciclista, pode causar uma cefaleia por compressão externa, quando há uma pressão sobre os tecidos pericranianos e nervos sob o couro cabeludo e na lateral da cabeça;
  • Mau posicionamento na bicicleta, que pode causar cefaleias leves e até enxaquecas. Na bike, o ciclista projeta o seu corpo para frente e a cervical para trás. Se passa muito tempo na mesma posição ou se tem uma hérnia de disco, pode pressionar o complexo trigêmino-cervical, estrutura que liga os nervos no pescoço a região dentro do cérebro. Como resultado, pode experimentar cefaleia cervicogênica e até enxaqueca. Há casos ainda de dor de cabeça tensional resultante da contração do trapézio. Em geral, esse desconforto é mais leve e menos incômodo, ficando mais localizado no trapézio, inclusive. De todo modo, ainda que uma contratura do músculo trapézio ou do pescoço não evolua para uma dor de cabeça, já proporcionará um desconforto que dificultará ou até mesmo impossibilitará a sequência de movimentos da pedalada;
  • Tumor ou aneurisma. Esses casos, os mais graves, são também os mais raros. Mas por isso não se deve deixar de procurar um neurologista, para que eles sejam descartados ou, em caso de confirmação, tratados.

Como prevenir

  • Faça o bike fit. Essa técnica permite ajustar a bicicleta ao ciclista para melhorar sua postura e movimento, aumentar o desempenho e evitar dores e lesões. Portanto, especialmente para quem pedala por muito tempo ou pratica esportes, o bike fit é mandatório para evitar desconfortos, incluindo dores de cabeça;
  • Conte com o apoio de um profissional de Educação Física que tenha experiência em ciclismo para ter as orientações necessárias para realizar um treino de qualidade, com recuperação adequada e evoluções progressivas. Essa orientação também é importante para garantir um bom posicionamento na bicicleta, evitando erros posturais em geral;
  • Realize uma recuperação adequada para o esforço realizado durante o treino, sem correr o risco de overtraining e suas complicações para a saúde e qualidade de vida. Esse cuidado também é necessário para o cérebro se restabelecer e se acostumar com o estímulo da atividade. Por isso, para evitar dores de cabeça, não descuide do tempo de descanso e da reposição hídrica e energética;
  • Adote uma dieta que reponha o gasto promovido pela atividade. No caso de quem pratica esportes, seja ciclismo de estrada ou mountain bike, que são modalidades de alta intensidade, vale consultar nutricionista para ter indicação de uma dieta individualizada;
  • Faça uma boa reposição de líquidos e eletrólitos. Muito além de consumir água, será preciso ainda ingerir sais minerais eliminados durante a atividade, como sódio e potássio, para uma hidratação correta. Nutricionista também poderá ajudar nesse sentido;
  • Não pedale muitas horas após consumir algum alimento para evitar um quadro de hipoglicemia. O ciclista precisa estar devidamente alimentado para conseguir manter o giro. Além disso, em hipótese alguma pedale em jejum;
  • Use o capacete no tamanho certo. Sem contar que é necessário escolher o equipamento indicado para a modalidade praticada para proteger o crânio, em caso de quedas;
  • Evite pedalar em horários de pico de calor. Ao participar de uma prova, não tem muito jeito. Mas caso faça um treino ou passeio, prefira horários em que o sol não esteja intenso, para evitar colocar o seu corpo sob condições extremas. De qualquer forma, não se esqueça de usar proteções como óculos escuros e capacetes com viseiras e fazer reposição hídrica durante a pedalada;
  • Dispense o treino ou deixe a bicicleta em casa, no caso de quem usa a bike para se locomover no dia a dia, se estiver com um cansaço muito grande ou após uma noite mal dormida. Essa é uma dica geral para quem pratica esportes e ajuda a evitar complicações também entre os ciclistas, incluindo dores de cabeça;
  • Não trate pedaladas para locomoção no dia a dia como parte do treinamento. Nessas ocasiões, é preciso sempre evitar esforço excessivo e realizar pausas ao longo do trajeto, para que a experiência não seja muito exaustiva, especialmente em dias de muito calor;
  • Consulte um médico se, mesmo com esses cuidados, notar dores de cabeça durante ou após as pedaladas. Converse com o seu clínico, médico do esporte ou procure um neurologista para investigar as causas do problema.

Pontos de atenção

  • Se fez uso de algum medicamento para dor de cabeça e o problema melhorou, entenda que a causa não foi resolvida. Por isso, caso o incômodo persista após o efeito do remédio, é preciso consultar um médico;
  • Consulte um profissional de Educação Física para saber como realizar alongamentos para a cervical. É preciso estar bem orientado para realizar esses movimentos de forma correta.

Dicas para ciclistas que já sofrem com enxaqueca

Quem já sofre com enxaquecas, não precisa evitar ou abandonar o ciclismo. A médica neurologista comenta que, de fato, o ciclista se expõem a muitos estímulos que, para pessoas com esse problema, são fatores causadores de dores incômodas. No entanto, ao redobrar os cuidados, não abusar do tempo sobre a bike e fazer uso da medicação prescrita pelo médico que acompanha o caso, por exemplo, é possível usufruir dos benefícios que a atividade proporciona.

– Quando se faz um esporte há liberação de endorfina, que são analgésicos naturais. A atividade física proporciona esse benefício de diminuição da dor. Mas será maléfica quando for de alta intensidade e com uma baixa recuperação, que pode causar um estresse metabólico que agravará a dor – enfatiza a neurologista.

Para quem já sofre com enxaquecas, é preciso adotar também os seguintes cuidados adicionais sugeridos pelos médicos:

  1. Jamais pedale em momentos de crise. É verdade que quem experimenta esses episódios não terá vontade de pedalar, apenas de fazer repouso em local escuro e silencioso. Mas é importante frisar que não se pode forçar e realizar o exercício com enxaqueca, pois há uma chance grande de a dor piorar;
  2. Sempre utilize óculos escuros e viseira ao pedalar de dia, para evitar que a dor aconteça pela sensibilidade à luz;
  3. Faça uso da medicação prescrita pelo médico, para não perder o rendimento na atividade e evitar riscos como tontura durante a pedalada;
  4. Redobre os cuidados com a hidratação;
  5. Pratique a atividade com moderação e somente progrida quando já tiver condicionamento, mas respeitando os seus limites e com a orientação de profissional de Educação Física;
  6. Suspenda o exercício e consulte o médico que faz o acompanhamento, caso sinta as dores ao pedalar. Se isso acontecer mesmo tendo adotado todos os cuidados preventivos, pode não ser enxaqueca e deve-se investigar a causa.

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