21 de novembro de 2024

Cicloturismo: como não passar perrengue em uma viagem de bicicleta

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POR FERNANDA BECK

O cicloturismo é uma tendência forte na Europa e vem ganhando adeptos no Brasil. Mas antes de, efetivamente, começar sua viagem de bicicleta, é importante conhecer técnicas e estratégias que ajudam a evitar problemas – além de saber lidar com os que podem aparecer pelo caminho.

O destino e a rota

Na hora de escolher o destino, é importante levar em conta alguns fatores, como a melhor época para pedalar no local desejado, o clima na data da viagem e como isso pode afetar seu percurso – marés altas podem impedir um pedal pela praia, por exemplo.
Pesquise sobre o terreno e as estradas que você vai encarar, e determine se você vai começar e terminar a viagem no mesmo ponto.
Considere a dificuldade do trajeto. Você já está acostumado a pedais longos? Está em boa forma? Ou quer apenas um pedal para relaxar, sem grandes esforços?
Com quem você vai pedalar? Você gosta de pedalar em grupo? Com a família? Namorado/a? Sozinho? É melhor viajar com alguém que aguente o mesmo ritmo que você.
Antes de partir, defina seu orçamento, onde e o quê você vai comer e onde vai se hospedar. Você vai acampar? Ficar em hotéis e pousadas? Ou um pouco dos dois? O aplicativo Warm Showers também pode ser uma boa opção. Há restaurantes ou supermercados no trajeto? Onde eles estão localizados?

O peso da bike

Na hora de fazer a mala para o cicloturismo, menos é mais. Você pode levar o que quiser ou conseguir carregar, mas tenha a consciência de que quanto mais coisa levar, mais pesado ficará o pedal, e mais tempo você vai demorar para ir de um ponto a outro. O ideal é que a bagagem não ultrapasse os 20 kg.
Depois de carregada, você consegue levantar sua bike do chão e levá-la por alguns metros, para cruzar um rio, por exemplo? Em caso negativo, é um sinal de que colocou peso demais. Quem quer encarar terrenos mais inóspitos também deve conseguir levantar a bicicleta sobre cercas.
Ao fim de cada viagem de cicloturismo, verifique se você levou algo que não foi usado – é um ótimo candidato para não ir com você da próxima vez.
Como escolher uma bicicleta para cicloturismo
Escolha um quadro resistente e robusto, com uma geometria confortável que possibilite muitas horas de pedal sem cansar. Bicicletas próprias para cicloturismo costumam ter quadros alongados que afastam o movimento central da roda traseira, possibilitando uma pedalada livre, sem que o pé bata nos alforjes.
Um selim confortável é indispensável. Selins de gel podem ser macios inicialmente, mas a maioria dos ciclistas escolhe selins de espuma dura, que não se deformam com o tempo. Nunca parta para uma cicloviagem com um selim novo ao qual você não está acostumado – pedale pelo menos uns 50 km com ele antes para ver se é necessário algum ajuste.
Prefira rodas fortes, já que é muito mais difícil desviar de buracos e outros problemas do terreno com uma bike carregada, e pneus largos, feitos para uso na estrada, mas que ofereçam estabilidade também em terrenos acidentados – 35 mm é uma boa pedida.
Diferentes tipos de guidão oferecem vantagens diferentes. Um guidão reto vai te ajudar a manter uma postura mais ereta e, portanto, menos exigente. Um guidão drop vai te dar mais opções de pegada e a possibilidade de descansar o peso do corpo sobre os braços por alguns momentos, o que pode ser bom depois depois muitas horas no selim. Faça testes e veja o que funciona melhor para você.
A escolha do pedal também é importante. Pedais plataforma (sem dispositivos para prender) só são indicados para viagens muito tranquilas, em que a perda de eficiência na pedalada tem pouco efeito. Sapatilhas de MTB se parecem mais com tênis comuns e permitem que você caminhe sem grandes dramas.
Paralamas são fundamentais. Existem modelos de plástico que quase não adicionam peso à bicicleta e evitam costas molhadas de lama ou água da chuva. Eles também ajudam a evitar uma bicicleta exageradamente encardida.

Habilidades necessárias para uma cicloviagem

  • Saber escolher a hora certa de usar cada marcha é importante– números menores são mais leves e os maiores mais pesados. Subidas exigem marchas leves, e longos planos são bons para aumentar o rendimento do pedal com escolhas mais pesadas. Se está difícil de pedalar, você provavelmente está na marcha errada.
  • Mude para uma marcha leve antes de entrar em uma subida (essa dica vale para todos os momentos e não apenas durante o cicloturismo) – mudanças bruscas durante a subida desgastam o câmbio, podem soltar a corrente e fazem você perder rendimento.
  • Se tiver que parar e voltar a pedalar em uma subida íngreme, aponte a bike a 45 graus, para reiniciar a subida em um ângulo mais leve.
  • Nunca freie na curva. É preciso desacelerar antes de começar a mudança de direção. Sempre freie suavemente para não travar a roda e acione primeiro o breque de trás e só depois o da frente.
  • Leve em consideração que a bike está mais pesada do que de costume e vai demorar mais para responder durante a frenagem.
  • Para parar, desclipe o pé esquerdo, apoie-o no chão e levante do selim. Acostumar a apoiar sempre o pé esquerdo no chão ajuda a evitar marcas de graxa da corrente na perna direita.
  • Tome cuidado para não deixar o pedal do lado de dentro das curvas para baixo durante curvas acentuadas – é queda certa.

10 erros clássicos do cicloturismo para evitar

  1. Não treinar o suficiente – e fazer um esforço tremendo para completar o trajeto ou não conseguir completar;
  2. Pedalar em um nível muito puxado no começo da viagem – e se sentir exausto no resto dos dias;
  3. Usar marchas pesadas demais – e sobrecarregar o corpo;
  4. Não mudar de marcha o suficiente de acordo com o terreno – e desgastar as peças;
  5. Levar roupas arrumadas demais – e levá-las de volta para casa sem uso;
  6. Não se preparar para o frio – e passar por momentos muito desagradáveis;
  7. Não comer e beber o suficiente enquanto pedala – e entrar em colapso físico;
  8. Não fazer uma revisão na bike antes da viagem – e ter problemas mecânicos que poderiam ter sido evitados;
  9. Não ter flexibilidade no itinerário – e se frustrar quando as coisas não saem como planejado;
  10. Fazer da viagem uma competição – e acabar com o clima agradável do pedal.

Sugestões de roteiro para o cicloturismo

Agora que você já conhece o básico antes de iniciar uma cicloviagem, o próximo passo é escolher o destino. A rota deve levar em consideração quanto tempo você tem, seus gostos pessoais, assim como seu nível de condicionamento físico e experiência em cima da bicicleta.

Chapada dos Guimarães (MT)
Paraíso para quem curte mountain bike, a Chapada Diamantina oferece um playground infinito de trilhas, e pode ser inteira conhecida de bicicleta. O roteiro mais clássico de cicloturismo é dar a volta no Parque Nacional pedalando, basta contratar um guia especializado e passa por diversos atrativos históricos, cachoeiras e cavernas.

Lagamar (SP)
Uma das rotas mais amigáveis para cicloviajantes estreantes, o Polo Ecoturístico de Lagamar começa em Iguape e passa por Cananeia, Ilha Comprida e Ilha do Cardoso, com um pedal tranquilo, principalmente pela areia dura das praias da região.

É possível fazer itinerários diferentes de acordo com os barcos e balsas locais, e passar também pelo Parque Estadual do Superagui. Atenção: a infraestrutura turística do local é sazonal – fora de temporada, invista na autossuficiência para não passar perrengue.

Circuito Vale Europeu (SC)
Primeiro roteiro pensado exclusivamente para o cicloturismo no Brasil, o Circuito Vale Europeu passa por nove municípios do Vale do Itajaí, quase sempre por estradas de terra que dão acesso a várias cachoeiras. Com bastante estrutura, conta com pontos de apoio, hotéis, pousadas e restaurantes ao longo dos 300 km de trajeto.

Serra da Canastra (MG)
A Serra da Canastra vem se consolidando como destino de cicloturismo no Brasil (além de polo para os amantes do MTB) pois a maioria de suas atrações pode ser alcançada no pedal. Com estradas de terra marcadas por subidas e descidas acentuadas, passa pela nascente do rio São Francisco, cachoeiras e mirantes, e conta com uma estrutura simples de restaurantes e pousadas rurais.

Serra da Mantiqueira (SP-RJ)
Uma viagem rápida para quem quer se aventurar de bicicleta pela estrada. A jornada de Ubatuba a Paraty tem cerca de 100 km na Rio-Santos, em um lindo pedal entre o mar e a Mata Atlântica, e pode ser feita em um ou dois dias de acordo com a velocidade desejada. O trajeto é predominantemente plano, com subidas leves pelo caminho.

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