Alimentos ultraprocessados elevam risco de obesidade

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Por Guilherme Renke

A relação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o sobrepeso é observada há décadas. São produtos feitos inteiramente ou majoritariamente de substâncias extraídas de alimentos, como gordura hidrogenada e amido modificado, ou sintetizados em laboratório com base em matérias orgânicas, como corantes, aromatizantes e realçadores de sabor. Com o crescimento do número de pessoas acima do peso e a repercussão disso na saúde pública, nos últimos anos o assunto ganhou importância e vem sendo tema de diversos estudos. Estes apontam a relação de causalidade entre a ingestão de alimentos ultraprocessados e o aumento da ingestão calórica e do ganho de peso.

Os produtos alimentícios ultraprocessados ganham espaço nas prateleiras dos mercados e na mesa do brasileiro. É uma tendência observada nos países em desenvolvimento como o Brasil e seus vizinhos latino-americanos. Diferentemente de alguns países desenvolvidos, onde nas últimas décadas ocorreu o inverso, com os ultraprocessados perdendo um pouco de espaço para os alimentos naturais ou minimamente processados. O aumento do consumo nos países latinos parece estar fortemente correlacionado com o aumento do peso médio corporal nestes países. A globalização e a desregulamentação do mercado estimulou a ocupação de espaços por empresas multinacionais de alimentos que destinam grande parte da sua produção a estes produtos.

Mas por que esses alimentos são tão consumidos? São produtos saborosos, apresentam segurança microbiológica e aliam durabilidade e conveniência, sem a necessidade de preparações culinárias elaboradas. Muitas vezes são vendidos em grandes porções e baixos custos. Além disso, são capazes de interromper a sinalização intestino-cérebro de regulação do apetite e com isso inibem a fome. Ainda há o marketing, que ironicamente utiliza dessa característica problemática para promovê-los: “Impossível parar de comer” ou “Irresistível” são termos comuns nas propagandas.

Segundo o nutrólogo Higor Vieira, “as desvantagens relacionadas à ingestão excessiva de produtos alimentícios ultraprocessados se devem às características nutricionais que eles apresentam. Geralmente apresentam maior densidade energética (ou menor densidade nutricional), maior teor de gorduras e açúcar. Possuem menor teor de proteínas, fibras, vitaminas e minerais.”

Os efeitos a longo prazo da exposição a vários aditivos alimentares não são bem conhecidos. Há ainda a desvantagem ambiental desse consumo excessivo, já que a produção desses alimentos eleva o volume de resíduos sólidos, de água e energia pelas indústrias, além de reduzir a variedade biológica dos gêneros alimentícios, considerando a compra em massa de uma única variedade do alimento in natura que serve de base para produção de diversos produtos ultraprocessados.

Limitar o consumo de alimentos ultraprocessados pode ser uma estratégia eficaz na prevenção e no tratamento do excesso de peso. Para isso, é importante valorizar a cultura alimentar regional e a transmissão de habilidades culinárias entre as gerações e priorizar alimentos naturais ou minimamente processados, que devem ser consumidos com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia.

Contemplar a diversidade dos grupos de alimentos, ser crítico quanto às informações, orientações e mensagens veiculadas em propagandas comerciais e planejar o uso do tempo para dar à comida o espaço que ela merece são estratégias importantes na luta por uma alimentação mais saudável.

O guia alimentar para população brasileira, na sua segunda edição, oferece um conjunto de informações, análises e orientações sobre escolha, preparo e consumo de alimentos. É um importante instrumento de educação alimentar e nutricional, que pode facilitar o acesso da população às informações atualizadas sobre hábitos alimentares equilibrados e saudáveis.

Referências:

1) Ultra-processed diets cause excess calorie intake and weight gain: A one-month inpatient randomized controlled trial of ad libitum food intake. KD Hall et al.

2) Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica – 2. ed.

3) Alimentos y bebidas ultraprocesados en América Latina: tendências, efectos sobre la obesidad e implicaciones para las políticas públicas. OPAS; 2018.

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