Basta uma conversa rápida com quem já participou de competições com duração superior a uma hora e meia como meia maratona, triathlon, duathlon, trail run, mountain bike, maratona ou ultramaratona para conhecer sobre a dor muscular após estes eventos. Quem participou pelas primeiras vezes já vivenciou no dia seguinte dificuldade até para levantar da cama, mesmo aqueles com uma certa experiência ainda experimenta a sensação de não conseguir dar passos amplos.
Juliano foi um desses caras que sempre ouviu que participar do ULTRAMACHO é inesquecível, seja pela corrida em meio a natureza, quanto pelas dores no dia seguinte. Diferente dele, Anderson já conhecia bem o que era dor muscular tardia, pois já havia corrido 12km em sua cidade natal, Mimoso. Juliano se preparou para sua primeira meia maratona sem mudar muito sua rotina e manteve o habito de consumir seu maior “vício” tomar leite com chocolate antes e depois dos treinos. Não era uma orientação de algum especialista, mas simplesmente um costume de infância.
Anderson encontrou-se com Juliano em um treino de grupo de corridas e o orientou a consumir alguns suplementos para melhorar sua performance, mas não foi levado muito a sério. Pois eram produtos caros e distante da cultura alimentar do Juliano. O mimosiano consumia antes dos longões palatinose, batata doce, e proteína hidrolizada e evitava frutas, pois acreditava que o deixava com a sensação de estomago cheio.
Durante os treinos consumia somente carbogel e água enquanto que no final apenas isotônico e frutas.
No dia da meia maratona Juliano comeu pão francês com ovo, tomou leite com chocolate, uma banana e bocaiuva. Pois eram as frutas preferidas pelos moradores de Acorizal. Com medo de passar fome durante a prova levou algumas Todynhos congelados que deixou na geladeira de um dia para o outro. Anderson seguiu para a prova após tomar seus suplementos e levar seu carbogel. Ao final da prova não se encontraram, pois Juliano chegou bem depois.
No dia após a prova Anderson não conseguia se mexer da cama com tanta dor e pediu pra esposa para avisar sua chefa Aline que não conseguiria ir trabalhar. Enquanto isso, Juliano já se dirigia para roça colher banana, com um pouco de dor, mas sem limitação de movimento e sentia que poderia até treinar no dia.
O que foi que aconteceu? Os amigos em comum dos dois especularam que Juliano deveria ter usado algum anti-inflamatório ou que Anderson se esforçou muito mais e que por isso sofreu mais danos muscular. Todos estavam errados. O que aconteceu é previsto pela medicina do esporte há alguns anos, a saber, consumir carboidrato antes, durante e depois associado a proteína reduz a dor muscular tardia.
A orientação tanto do Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM) quanto do Instituto Internacional de Nutrição esportiva recomendam o consumo de proteína não só antes e depois, mas DURANTE provas longas, além de que recentemente tem sido observado que o cacau ajuda no processo de recuperação.
O hábito alimentar do Juliano de consumir leite com chocolate, antes, durante e depois, bem como de frutas seguiu as atuais diretrizes internacionais, enquanto que Anderson seguiu a orientação dos blogueiros de plantão.
A literatura científica atual sugere que o consumo de 1g a 1,2 gramas por quilo de peso de carboidrato e 0,25 gramas por quilo de peso de proteínas nas primeiras duas horas após o exercícios auxiliam na recuperação muscular e redução da dor após provas de longa duração. Esta proporção é muito próxima a boa parte dos produtos com leite e chocolate.
DICA:
Importante lembrar que qualquer alimento e ou suplemento deve ser testado antes da competição em treinos com características parecidas a do evento. Não invente “treta” diferente para as provas. Mantenha sua rotina assim como o Juliano fez.
Divirta-se nas provas!
Fonte Bibliográfica
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