Meu pai, um homem de sete décadas, repetidas vezes quando me via reclamar de dores na garganta orientava que bocejasse com água com limão e sal, ou água com vinagre e limão. A receita, que até um certo momento “funcionava” para irritações ou infecções, ganhou status de santo remédio para inflamações e estimulante da imunidade. Ao menor sinal de doença meu pai dizia: “toma limão com água em jejum que resolve”.
Tentador pensar que os antigos estavam certos! Nunca se ouviu tantas vezes de profissionais médicos e nutricionistas que limão, glutamina e gratidão são a receita para iniciar o dia estimulando a imunidade e potencializando a perda de peso. Este pensamento foi absorvido por praticantes de esportes que viram nos vídeos disseminados por profissionais de saúde a validação necessária para o seu uso. Desde então é comum corredores, triatletas e fisiculturistas utilizarem esta estratégia, da mesma maneira que ocorreu com a água com limão do meu pai, o que era utilizado para um objetivo passou a “funcionar” para inúmeras outras situações.
Diante do aumento da intensidade de treinamentos e competições, praticantes e atletas de diversas modalidades esportivas necessitam de estratégias especificas para reduzir os riscos de lesões, evoluir nos treinamentos, recuperar rapidamente das sessões de exercícios e minimizar as dores e “queda na imunidade”. Esportes de luta como jiu jitsu, karatê e judô demandam abordagem nutricionais diferentes daquelas praticadas por fisiculturistas ou atletas de corrida e triatletas.
Água com limão e glutamina teriam utilidade para atletas de corrida que participam de provas como do ULTRAMACHO? Será que a estratégia nutricional para prever lesões, dores musculares ou articulares após estas competições teria espaço para o pensamento do meu pai ? Qual seria a melhor forma cientifica de alcançar estes objetivos ?
Meu pai acertou! Não na orientação do consumo de limão, água e sal, mas de que era necessário consumir frutas, mesmo de forma pontual e com objetivo equivocado. O limão é apenas um alimento que oferta boas quantidades de vitaminas c, nada mais. A glutamina, que surge como suplemento utilizado em ambiente hospitalar para pacientes graves sob risco de translocação bacteriana( não se preocupe com o termo, mas ele quer dizer que as bactérias do sistema digestório podem invadir o organismo através das paredes fragilizadas do intestino) seguiu o caminho da água com limão e foi elevada ao grau de “serve pra tudo” que diz respeito a intensa utilização do corpo e seus mecanismos de controle de stress físico.
Em artigo publicado no American Journal of Physiology, maio de 2017, o consenso sobre imunologia e exercícios afirma que “entre as várias estratégias nutricionais e fisioterapias que os atletas usam para se recuperar do exercício, a suplementação de carboidratos é a mais eficaz para minimizar os distúrbios imunológicos durante a recuperação do exercício”, enquanto que a suplementação de glutamina não se provou eficiente.
Na mesma direção, os pesquisadores David C. Nieman e Susan Hazels Mitmesser em artigo divulgado em maio de 2017 no jornal cientifico Nutriens pontuam que “as contramedidas nutricionais mais eficazes( para melhora da imunidade durante atividades intensas) incluem aumentos agudos e crônicos no consumo de carboidratos e polifenóis (frutas de chás) da dieta”.
Em resumo fica a mensagem: alimente-se de carboidratos antes, durante e depois das atividades intensas e longa duração (acima de 60 minutos) visando a manutenção da imunidade e melhorar a recuperação. No próximo artigo abordarei a importância destas etapas e as possíveis estratégias.
Abraços do nutri que ama comida de verdade e com carboidrato.
Fonte Bibliográfica:
-Nieman, DC, & Mitmesser, SH (2017). Impacto Potencial da Nutrição na Recuperação do Sistema Imune a partir do Esforço Pesado: Uma Perspectiva Metabolômica. Nutrientes , 9 (5), 513. http://doi.org/10.3390/nu9050513
-Peake, J. M., Neubauer, O., Walsh, N. P., & Simpson, R. J. (2016). Recovery of the immune system after exercise. Journal of Applied Physiology, 122(5), 1077–1087. https://doi.org/10.1152/japplphysiol.00622.2016
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preciso me aprofundar mais, volto mais vezes.
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