Hoje, o público feminino representa metade dos atletas que completam provas longas tanto nos EUA quanto aqui no Brasil. Porém, nem sempre foi assim. Em 2015, esse número era de 32%. Há três décadas, não havia tantas pesquisas sobre o assunto. Mas o que relatam as corredoras de rua da época era uma grande maioria masculina, com elas como exceção.
Por conta da militância e de grandes resultados, atletas brasileiras foram decisivas para abrir as portas a mais mulheres no esporte. Veja a história de algumas delas aqui:
Eleonora Mendonça
No lugar certo e na hora certa: Eleonora Mendonça cursava mestrado em educação física nos EUA quando o boom da corrida se espalhava pelo país. O ano era 1972, e Frank Shorter havia sido o campeão da maratona na Olimpíada de Munique. Foi nesse cenário que Eleonora começou a correr.
Quando voltou ao Brasil, Eleonora encontrou um cenário oposto. A adesão à corrida de rua era baixa, especialmente entre as mulheres. Ela começou a disputar provas nacionais e internacionais representando o Clube do Fluminense e o Brasil com recordes e medalhas, mas não parou por aí. Eleonora passou a organizar eventos de corrida no país, entre eles a 1ª Corrida Avon, em 1980, exclusiva para o público feminino. “Às mulheres, só faltava oportunidade. Quando as portas se abriram, elas vieram”, diz a atleta.
Adriana Aparecida
Dois ouros em Pan-Americanos (2011 e 2015) colocam Adriana Aparecida entre as maiores maratonistas da história do país e do continente. Natural de Cruzeiro, no interior de São Paulo, a atleta já mostrava todo seu potencial logo aos 12 anos de idade, quando venceu uma prova de 5 km em sua cidade – momento em que descobriu o que queria fazer pelo resto da vida.
Carmen de Oliveira
Durante 23 anos, nenhuma atleta brasileira conseguiu bater o recorde de Carmem de Oliveira obtido na Maratona de Boston (2h27min41). Ela foi a primeira atleta a conquistar um sub-2h30 nos 42 km. Além disso, ela foi a primeira mulher do país a vencer a São Silvestre, em 1995.
Durante muito tempo também não apareceu nenhuma sul-americana mais rápida que Carmem nos 5 km (sua marca, de 1992, é 15min39). E ainda não apareceu ninguém que a superasse nos 10 km de estrada (tem 32min06, de 1993) e nos 15 km de estrada, em que fez 48min38 em 1994. Aposentada, ela torce para que seus recordes sejam batidos.
Roseli Machado
Foi uma surpresa geral quando Roseli Machado se tornou a segunda brasileira a vencer a Corrida de São Silvestre em 1996. Até então, a corredora havia ganhado duas corridas de rua nos EUA, mas não era apontada entre as favoritas para a tradicional prova paulistana. Se a ascensão da atleta criada no interior do Paraná foi meteórica, também foi sua queda: por conta de uma lesão no quadril e um erro médico na cirurgia, ela teve de abandonar a carreira precocemente.
Soraya Vieira Telles
Um ano antes de figurar na delegação brasileira para os Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, Soraya Vieira Telles foi a primeira sul-americana a correr os 800m em menos de dois minutos. Se dentro das pistas ela fez história, Soraya continua contribuindo para a corrida de outras formas. Ela coordenou um projeto que levava crianças da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, para o atletismo, e sua dedicação ao esporte foi reconhecida pelo Comitê Olímpico, que a nomeou para carregar a tocha olímpica antes dos Jogos do Rio, em 2016.
Eliana Reinert
A catarinense Eliana Reinert se tornou corredora profissional em 1978, aos 20 anos. Hoje, acumula conquistas expressivas na carreira, como o 1º lugar na Maratona do Rio de Janeiro, em 1987. E a melhor marca sul-americana entre as mulheres na Maratona de Nova York de 1995. Como assessora de corrida do Projeto Correr há quase três décadas, ela dá enfoque especial ao público feminino que, segundo ela, vem superando concepções antigas de que não teria a capacidade de correr provas longas.
Ana Luiza dos Anjos Garcez
Uma das principais corredoras master do Brasil, a especialista em meias maratonas Ana Luiza dos Anjos Garcez, a “Animal” fez da corrida um instrumento de superação. Ela morou por 18 anos nas ruas e sofreu diversos tipos de abuso. Começou a “praticar” corrida fugindo da polícia quando usava e vendia drogas e chegou a completar uma maratona apenas para provar que conseguia. Sua história chamou a atenção de um programa de incentivo à prática de esportes da prefeitura de São Paulo, que a colocou no caminho das corridas de rua.
Marcia Narloch
Medalhista de ouro no Pan 2003, Marcia Narloch dedicou 25 anos de sua vida à corrida de rua. E se tornou uma das principais maratonistas da história do esporte no Brasil. Três vezes vencedora da Maratona de São Paulo, a atleta conviveu com algumas lesões que a fizeram se despedir da carreira depois da prova de 42 km do Pan-Americano de 2007 – ocasião em que, com dores desde o Km 15, conseguiu a medalha de prata por conta da extrema força de vontade.